2010-07-15

estamos todos na flor da vida

eles eram das suas vidas protagonistas inatos e peneirentos, inconstantes miniaturas em construção. eles eram os melhores. (nada tinham que ver com pequenos bonecos maravilhosamente sincronizados, a quem não interessava palco de pó, borrão de tinta ou poesia que fosse na cidade supostamente fervilhante em que supostamente viviam.) sorriam na esperança de que por milagre, a aventura que passava por eles todos os dias lhes trouxesse algo de mítico para todo o sempre: sorte e alma.
um pequeno grupo que se metia num autocarro, que saía numa paragem que não lhes dizia nada só para que andassem por ali, a romancear amizades num mundo ancestral que lhes fazia comichão na garganta. gente diferente da outra gente e gente diferente entre si, daí a amizade explodir naquele meio. mas quem morava (morava?) por ali não lhes distinguia diferença. olhos estereotipados não davam ali, e eles quiseram mudar de paragem.
às vezes paravam para cantar e dançar. todos felizes da vida sem o saberem. só um, com o punho fechado (uns pêlos a despertarem aqui e ali) marcava o ritmo, sisudo, das mínimas e das colcheias. quem por ali passava (passava?) não o colocava ali, as festas e abraços que lhe faziam não se integravam no esfusiante espectáculo. logo ali, quiseram mudar de paragem.
apareceram uma vez, tempos depois. cantavam e ainda réstias de esperança em paragens que não de autocarros locais, mas eram apenas sisudas mínimas e colcheias. o artista tinha morrido.

1 comentário:

Rita disse...

gosteii tanto , como sempre :D