2013-03-21

desbloqueio

e se num dia eu quis mudar o Mundo, levantar-me e falar mesmo em voz alta e palpável, ser aplaudida e não querer saber porque só o Mundo naquelas barrigas inchadas haveria de fazer a diferença; se um dia um quis mudar o Mundo apenas por um segundo tal chegou mesmo a acontecer. ainda que só por um segundo.
há quem diga que para tal temos de nos mudar a nós primeiro. mas eu não quero crescer, eu não quero sair desse pôr-do-sol que nos segura à praia, não quero saltar do barco, legalizar-me, subir às montanhas - só assim consigo já ouvir os meus gémeos martirizados e doridos de riso no dia seguinte. não quero crescer.
por isso, e por enquanto, eu vou só entreter-me, em cigarros de vómito, músicas que fazem rugas, receitas de criança. vou só entreter-me até uma qualquer hora chegue e eu não me lembre de vestir o pijama e me enroscar nos lençóis que amanhã me mudarão para sempre. por agora vou só não ir para a cama - deve ser por isso que se escrevem livros.
amanhã, ou quando for, há-de ser o dia em que me levanto, a mim e à voz, e mudo o Mundo todo de uma vez e a partir daí, por aí, vou ler todos os livros antes de dormir sem esperar por acordar, falar com todas as pessoas e comer tudo o que me puserem à frente. porque, afinal, tenho o Mundo todo na barriga e tenho de fazer alguma coisa com ele.