2011-09-25

amor é#14

as maiores lutas não são com o chinfrim do sangue a espirrar uma alma qualquer. não são lutas onde se tiram olhos aos inimigos para depois se comerem fritos ao jantar, entre risos e champanhe. não vai ser, decerto, a luta onde correrás por montes, vales e guetos atrás de quem amas. e também não deves ir praticar tiro ao alvo ou a velejar naus raquíticas. 
ninguém te vai aplaudir, muito menos te oferecerão garrafas de vinho e girassóis bem arranjados. vais perder aos olhos dos outros, tenho quase a certeza. ah, também não deve ser a famosa e utópica luta interior. aí, vais ter-te a ti sempre a teu lado. e não vais travá-la sozinha, não te penses brava heroína solitária para já que te desiludes! tens amigos, eu sei que tens - descansa, hás-de ter quem te ampare as lágrimas, caíram direitinhas em esforço de novela.
com um golpe fundo de sorte, pode ser que te calhe na rifa (na rifa, na rima) ficar com quem sempre amaste. se não, aprenderás a amar-te a ti, na tua segunda maior luta, todo o santo diferente dia a partir do zero. (por vezes dois dias em 24horas) e é assim o amor.

2011-09-24

amor é #13

e eu só quero a fama para que, daqui a 15 anos, quando infeliz e provavelmente já não soubermos um do outro, eu ir dar uma entrevista qualquer, falar de quando nos perdemos, quando saltámos vedações, quando fizemos juntos os melhores amigos do mundo, quando eventualmente cortámos as unhas dos pés um ao outro, e nos rimos muito, sozinhos, no meio daquela gente toda, e demos beijinhos e os velhos conformados e reformados e resingões (farta de adjectivos monótonos) em vez de mandarem vir connosco nos perguntaram o nome, se fazíamos yoga e tudo e tudo. quando eu fui feliz, dizia eu em frente às máquinas, com um sorriso breve de quem joga às cartas no parque central.
e no dia seguinte estarás tu em frente à minha porta verdeaguadocomamareloeazul, sentado a ler o jornal que nunca compras dado que é um desperdício se os há na internet aos molhos, nada romântico como eu sempre te conheci e amei e me queixei muitas vezes claro, e eu desci atarantada com os olhos inchados voltaste! caíram os dossiers todos mas tu voltaste, sempre soubeste que os meus dossiers iam ter fotografias do passado fenomenal que me proporcionaste como se tu viesses dum convite para festa e eu agradecida pelas horas formais que esses convites humanos nos proporcionam, que interessa isso, voltaste! ias-te casar comigo agora, ter um cão feio que se baba como tu na almofada, fazer teatros na sala, e eu finalmente deixaria de ser famosa, de ter máquinas robóticas avançadas de mais à minha frente, atrás de mim, agora não, a meu lado só tu, voltaste, vamos ser Reis do mundo e dar beijinhos aos velhos, e vamos ser velhos, ieiuiieiii!

2011-09-14

amor é #12

não precisares sequer de ti para seres tu mesma.

das limpezas

e a dançar caí sangrei. acordei estremunhada, só e abandonada, como naquelas rimas que fazia quando as minhas palavras ainda timidamente poderosas, só assim sem todo o desdém que se ganha depois de muito pisar o mesmo chão. de tanto assim dançar ritmei o mesmo azulejo vezes e vezes sem conta - caí sangrei.
espero ser o hoje este dia em que acordei estremunhada e o meu o sangue que lavou para sempre as memórias do papel onde escrevi desde as rimas, digo, do chão onde dancei desde que o sapateado nas unhas dos meus pés. espero, não de pasmar a olhar para ti nas horas mortas, sem saber o porquê de nunca te ir esquecer na porra da minha vida que tem coisas de mais, um mundo inteiro veja lá, um mundo inteiro só para te perder e te esquecer quase. um mundo ideal, para mim e para aladino, era ter-te a ti e a um papel novo na cabeça todos os dias, percebes? sabes? eu caí e deitei sangue. porquê o sangue sinceramente? porquê sapateado, o velho, o desgastado, porquê a perseguição das rimas do quarto ano quando eu só te quero a ti e a um papel novo e limpo para sempre? porquê tanta coisa e eu sem espaço para dançar, as pessoas a espezinharem-me aquando o incêndio das suas almas? dançar em lume brando contigo, sempre foi escrever. assim, dancei contigo num papel novo para sempre.