2012-06-04

fale mais um bocadinho desculpe

mas é uma coisa que revolta, eu tenho 77 e vivo em Setúbal, a minha mulher não me deixa assim enervar-me, mas é uma coisa que me revolta. a mudança faz-se por dentro, sabia menina? tem ar de quem sabe, passou por mim há bocadinho e aqueles bandalhos de gente aos gritos não eram nada consigo, mas o ar de Lisboa 
o ar de Lisboa e sim, qualquer coisa sempre a mudar, por dentro e por fora, as pessoas a fervilhar (sai pelos olhos e os pés, que andam mais rápido) e os meus próprios pés, que andam como a mudança já  (lá?) estivesse efectivamente dentro. o ar de Lisboa, que nos chama preguiçosos através desse sol que pede por favor uma ligeireza no passeio, uma demora no rio, um docinho mais e nos implora, nos grita que a mudança é por dentro, olha a o pessoa, olha as outras estátuas com vida, metidas por dentro de nós:
e nós, hoje, estátuas, sem nada para pôr  (lá?) dentro, no sofá, na piscina, num mar calado, como nós, agitado, tomara nós, em todo o lado. somos trabalhadores para o bronze vitalícios, necessitados desse que é o repouso crónico, porque não te faz nada a ti, que és o amor da minha vida, nem a mim, nem aos meus pais, nem aos meus amigos que valem por tudo, então para quê? 
para quês que as pessoas vomitam numa rotina diária exagerada, trabalhar para quê, fazer queixa, para quê, refilar para quê, fazer amor contigo para quê 
e numa interdependência por ter desistido de escrever e de agora começar a tentar falar, inalcançável desejo impertinente, eu peço por favor que para de perguntar para quê é que eu exagero em tudo e nunca paro de falar e de refilar e de me chatear e comecem por favor por mim a mudança por dentro, eu não posso porque tenho essa necessidade de repouso crónico e tenho de desistir outra vez dessas palavras rudes e insistentes que tomam o lugar dos meus incisivos e me fazem perder a paciência mas nunca perguntar  para quê? isto porque um dia, por dentro, eu vou chegar lá e vou mudar e isto tudo e enfim todos os velhos de 77 anos vão poder enervar-se à vontade e ir para o moche na Rua Augusta.

2012-06-03

e - sempre com a merda das continuações, já que tudo vai no seguimento do e depois continuaremos, por assim dizer, agarrados a um passado do qual - a única coisa que eu quero são esses lençóis azuis turquesa, como a gravata, e eu neles, sozinha porque me estás a fazer o pequeno almoço, por me amares tanto que trabalhas assim todas as horas e os segundos para me estragares com mimos
- não quero, não quero passado algum, que lixem com f os presentes também, podia hibernar ou suicidar-me apenas APENAS de hoje a 3 meses temporariamente e acordar daqui a 6 meses, meio ano para aligeirar a coisa, e aí sim um futuro primogénito e tudo menos essas fugacidades tendenciosas como na situação mundial actual - 
nua eu e os lençóis, tu por aí a mudares o mundo por mim, ou sentado no sofá para me deixares fazê-lo, sempre tão cavalheiro. um dia então tu chegas embrulhas-te também nos lençóis turquesa daqueles fininhos fininhos, inventamos palavras novas como sempre e eu nua e leve e com um coração nu e leve do tamanho daquela vista do castelo que uma vez fomos e tu tão-só beijinhos e os teus olhos transparentes até ao intestino
- e hoje este futuro que eu conquistei, sou uma super-nova sabias? completamente espectacular que constrói o seu próprio e futuro e quem a ama e quem a tem - 
ainda que
- ainda que!

sozinha e nua nuns lençóis cuja cor