2010-09-28

túnicas com girafas

estás encostada ao prédio ao pé da cabine do telefone favorita de emigrantes que não têm dinheiro para mandar à família lá longe, contente por não seres a única infeliz neste mundo.não te interessa sequer o que a tua consciência pensa de ti. ouves africano, brasileiro do interior, mandarim, indiano. ninguém te vê. talvez a tua própria consciência o saiba, és invisível, ninguém te vê, não há dinheiro para o rebento mais novo, o mais velho que quer seguir com os estudos, a irmã que está grávida e fogo que é uma menina, tudo na mesma cabine, a rede sobrecarregada de infelicidade que não tua, bom, juro que isso é bom, vais aprender estas línguas todas um dia quando fores para a faculdade, vais saber a língua toda da vida quando no estrangeiro o teu traquejo não vale dinheiro num envelope, estás suja, usada e invisível, mais invisível que suja porque não um cheiro, na cabine azul e branca uma palavra que te caiu em cima, trouxe-te tudo de volta,uma e outra vez (se pudesse rimava agora, um som igual numa prosa corrida, uma palavra que me caiu em cima, uma rima aqui, por favor), do outro lado da linha sabes todos os porquês. desfazes-te porque já nem prédio, a tua vida era um prédio de desgraças com cabine ao lado, quem te disse que uma vida são escadas de desgraças? eras uma sequência limpa de paus, preto, trevos da sorte, eras um prédio com cabine ao lado, desfizeste-te, tanta gente na rua e o que pensa a tua consciência de ti?

2010-09-23

vou esquecer-me disto amanhã de manhã.

amor proíbido não é das histórias. não é fruto mais que apetecido, sequer. não faz com que morramos com facas de algibeira. sabes os frutos secos? é isso que eu sou. ou por aí. mas o amor proíbido é aquele das janelas entreabertas à meia-noite, só para cheirar um rasgo de alguém e num momento uma sombra dos dias seguintes passados com esse, da cor e cheiro de chocolate e jasmim, é? o proíbido não era mau? chocolate e jasmim é bom. e o amor ninguém o proíbe. só quem ama! se eu amo? esqueci-me. amor proíbido não é fazer tanta força a fechar os olhos que parece que quando os abrirmos vamos estar noutro lugar? (eu ia à Gardunha) eu fechei os olhos com força, sabes, e proíbe-me de amar no entretanto. de te amar. e quando abri os olhos (Gardunha sim, Gardunha não), tinha-me esquecido. não é isso amor proíbido? "proíbido comer chocolate" e a gente esconde-o, nas arrumações da garagem. e quando, desesparadinhos! lá o vamos buscar, cheira a borracha dos pneus e sabe a veneno para baratas. o meu amor cheira mal, ele que nem sequer gosta de regras. amor proíbido não era isso? ser um amor tão mau, tão mau, mau de nos arrancar o cérebro e mesmo assim nervos em tudo quanto é sitio? onde é que eu os fui buscar? eu que aprecio tanto a minha massa cinzenta. mas vá, um amor tão mau, tão mau, que passa a ser má companhia. eu não ando com más companhias? sabes, merda para o meu amor proíbido.

2010-09-20

esperanças de que saibas disto, então?

ainda dizem que isto não existe. ainda pensei eu serem as minhas hormonas, uma reacção química qualquer, ciência pura a razão para estar tão atordoada. a razão para me levar a dizer que por ti fazia 300 km sem sequer saber o dia dos teus anos, a tua cor favorita. a razão para escrever sobre amor e um sorriso parvo, para estar neste frenesim, eu que estou tão tranquila. deste-me um sorriso breve, dispensado a todos. tens noção do que me deste? esperanças dum inverno cheio de neve e serenatas com a tua guitarra. esperanças dum chocolate quente no meu coração, outra vez. a minha cor favorita é o verde e nasci e em vésperas de revolução. sabes o que quer dizer?

2010-09-14

barreiras

preciso de casa, outra vez. ando a pensar bastante nisso, porque falta qualquer coisa, a maior parte das vezes. preciso de uma mantinha no sofá e um chocolate quente, e preciso de dançar em cuecas. mas tudo psicológico, não vontades aleatórias. preciso do meu jornal, dos meus amigos, grandes, resplandescentes e antigos, dos meus amigos! preciso da minha serra cheia de nascentes. e preciso de uma outra casa, noutro lugar. falta qualquer coisa, a maior parte das vezes. fartei-me do stress, mas continuo sem gostar da pasmaceira. não sei para onde vá, onde fique, com quem almoce. mas vou e fico e almoço, é porque tem de ser? eu nunca usei aliança, ando despojada de objectos marcantes nos pulsos ou nos pés ou no pescoço, então porque é que apalpo os bolsos e sinto que falta qualquer coisa? a maior parte das vezes. eu não quero o inverno a dormir comigo, mas ele vai chegar e eu vou vestir casacos. tenho os olhos pesados, dores nas pernas e continuo a pé. tenho casa, preciso de casa. porra, mania do Homem de querer sempre mais.

das mudanças

a escola onde andava tem mil e quinhentos motivos para que toda a gente diga mal dela. tem gente que não cabe na cabeça de ninguem, pavilhões velhinhos velhinhos onde chove nas salas, tem muitas negativas nas pautas. mas, sabem, as salas de aula têm paredes cor de rosa. é isso que interessa. verde cócó não é para mim!

2010-09-06

peço desculpa

mas tenho preferido o meu caderninho e as canetas que vou encontrando. (férias, isto ainda são férias!)

2010-09-02

em casa, portanto

reparei há bem pouco tempo que onde penso melhor em mim, no mundo e nos outros é mesmo aí. comigo, com o mundo e com os outros. há muita gente que fecha a porta do quarto, se deita na cama, mete uns fones nos ouvido, e diz para si 'vou divagar'. e divaga. eu não consigo, fogo. quando o faço, penso em filosofias do papel higiénico e na melhor maneira de convencer o meu pai a ir passar mais fins-de-semana. e isso é tão terrivelmente estúpido. eu tenho de ir lá para fora para perceber o que isso é, tenho de olhar para as pessoas pare perceber como funciona um coração. o meu, a maior parte das vezes.
e depois reparo que tenho a capacidade de chamar casa a mil e quinhentos lugares, e chamo casa a pessoas. sabe bem, agora.