2011-12-18

das mortes lentas

cantas algumas músicas enquanto tomas banho e eu ouço-te ao fundo - estou a fazer qualquer coisa que o nosso amor não conhece, porque o nosso amor não faz perguntas. é um bebé que se diz aprimorado por não refilar nem quando se lhe muda a fralda - irá ele mudar o mundo, digo, o seu centímetro quadrado sequer de passagem? sabe bem escorregar na cadeira, pôr os fones e nem sequer uma pontinha de sentimento de culpa por não me recostar ao som da tua voz abafada e humedecida (o quê, cantava então no banho?). ao jantar relatar-te-ei de que vi a minha colega de carteira (onde nós pintávamos flores na aula de estudo do meio) no supermercado: tem um ar esquisito, lá todo cheio de cores, onde é que já se viu com quarenta anos alguém a saltitar feliz no corredor das alfaces. 
enquanto a cadeira escorregadia e os fones que penetram como espargos nos meus ouvidos um formigueiro tão familiar na ponta dos dedos - palavras. mas eu vou à varanda sacudir tapetes que as limpezas alguém tem de as fazer. assim, morri. (a música acabou mas logo outra na lista de reprodução e eu sem pena e já sem me lembrar - o quê, a minha música favorita passava então?)

2011-11-18

rasgos de arte no meu prato da comida
que numa eutanásia se engole e esvai

2011-11-10

no meio de tantos papéis eu que não encontro os lápis para me escrever de novo.

2011-11-01

macacos amam cambalhotas, puro instinto de sobrevivência

depois de três textos corridos e apagados sobre as mais banais e escritas da vida, vulgo tudo o que é decente e não decente, feito e sonhado, pensado e passado - retomando, depois disso tudo para fugir de ti, hoje eu vou só escrever porque é o meu escape livre, sem descontos nem nada disso. hoje eu vou só escrever. e vou escrever, sim, sobre como gosto de ser a tua princesa e que me queiras proteger à noite; que me ofereças o casaco só para eu dizer que não. toda a gente, a certa altura, tenta fugir do amor, e quase sempre, durante as horas em que sozinhas nada têm para fazer, tentam fugir de pensar nele. só como toda a gente, mas guardo-me em ti - não preciso de fugir de pensar em nada, porque me proteges como da noite se tratasse. hoje eu vou só escrever, e não me importar se tu e vocês me compreendem, porque eu só quero fugir de pensar seja no que for. queria fugir do amor e fugir das palavras; não consegui e foi em ti que encontrei solução. mas o meu coração não se foi ainda embora, por isso corre que nem doido em nossa volta, pronto a atacar. quer fugir de ti porque o fazes dar cambalhotas, e a razão ilusória em que toda a gente como eu, vulgo, toda a gente a certa altura, lhe diz irritante e incessantemente que apenas procura estabilidade. mas é por esta que se apagam textos corridos e qualquer amor de colo e fotografia. assim, sei que o meu coração vai voltar, adorar as cambalhotas e fugir de tudo, em ti, e por isso hoje vou só escrever, porque em ti tudo é solução.

2011-10-22

a minha cidade (versão cinzenta)

na minha cidade não há nada para ver: a minha freguesia é um conjunto de dormitórios inacabados, faltosos no que diz respeito às secretárias para estudar e às fotografias dos momentos importantes. não é que tenha tempo algum para a admirar - tenho ginástica à segunda, saída com amigas à terça, noite no facebook à quarta e janto com o meu namorado à quinta, sendo que nos dias que se seguem estudo e faço alguns tpc's -, nem tão pouco necessidade. tenho tudo o que quero, o meu quarto bem decorado e o meu guarda-roupa é o mais apetecível de sempre! quando era pequenina, atrapalhavam-me os passos rápidos das pessoas, a indiferença com que apanhavam o mesmo autocarro que eu quando ia ao parque dos pombos com a avó. ela andava sempre muito devagarinho, mas eu tinha paciência porque gostava muito dela. já morreu. hoje, compreendo que frete fazia quando me levava à pasmaceira das sombras das árvores, sempre as mesmas, sempre comigo, que só queria correr e dizer disparates. hoje teria, decerto, poupado a minha querida velha senhora a tal aborrecimento.



2011-10-09

Deus não é só pessoas

e dum nada que inspiras
as imagens turvam,
excitam-te, as palavras dum nada
a base do teu pescoço, um prédio na cidade,
passam nas tuas veias e outros canais quaisquer
aço puro que te corta por dentro
correm outras atrás a dar beijinhos
e a electricidade que te transpira dos dedos escorre no papel
um presente de fel.
sinceramente era só para rimar, agora que só a desilusão duma calma obrigatória duma vitória ilusória marcada pelo sorriso das pessoas às coisas que bonitas que tu, e tu e tu e tu, lhes mostras realizada e satisfeita, o mundo um mar com barquinhos e gente feliz mesmo que choraminguices de quando em vez. não, querida, é só mais uma das terríveis mil alturas em que vais ter de te atirar para um dos lagos, refrescantes e cheios de gente feliz mesmo que gritos lacerantes de vez em quando, e previsivelmente cair no chão, agora que até as palavras te cortam e te fazem sangrar estrelinhas desperdiçadas, agora que só palavras em aço inoxidável agarra-te bem a elas que a cor é bonita, podes saltar, ficas sozinha mas agarrada a elas e não tens de temer.

2011-09-25

amor é#14

as maiores lutas não são com o chinfrim do sangue a espirrar uma alma qualquer. não são lutas onde se tiram olhos aos inimigos para depois se comerem fritos ao jantar, entre risos e champanhe. não vai ser, decerto, a luta onde correrás por montes, vales e guetos atrás de quem amas. e também não deves ir praticar tiro ao alvo ou a velejar naus raquíticas. 
ninguém te vai aplaudir, muito menos te oferecerão garrafas de vinho e girassóis bem arranjados. vais perder aos olhos dos outros, tenho quase a certeza. ah, também não deve ser a famosa e utópica luta interior. aí, vais ter-te a ti sempre a teu lado. e não vais travá-la sozinha, não te penses brava heroína solitária para já que te desiludes! tens amigos, eu sei que tens - descansa, hás-de ter quem te ampare as lágrimas, caíram direitinhas em esforço de novela.
com um golpe fundo de sorte, pode ser que te calhe na rifa (na rifa, na rima) ficar com quem sempre amaste. se não, aprenderás a amar-te a ti, na tua segunda maior luta, todo o santo diferente dia a partir do zero. (por vezes dois dias em 24horas) e é assim o amor.

2011-09-24

amor é #13

e eu só quero a fama para que, daqui a 15 anos, quando infeliz e provavelmente já não soubermos um do outro, eu ir dar uma entrevista qualquer, falar de quando nos perdemos, quando saltámos vedações, quando fizemos juntos os melhores amigos do mundo, quando eventualmente cortámos as unhas dos pés um ao outro, e nos rimos muito, sozinhos, no meio daquela gente toda, e demos beijinhos e os velhos conformados e reformados e resingões (farta de adjectivos monótonos) em vez de mandarem vir connosco nos perguntaram o nome, se fazíamos yoga e tudo e tudo. quando eu fui feliz, dizia eu em frente às máquinas, com um sorriso breve de quem joga às cartas no parque central.
e no dia seguinte estarás tu em frente à minha porta verdeaguadocomamareloeazul, sentado a ler o jornal que nunca compras dado que é um desperdício se os há na internet aos molhos, nada romântico como eu sempre te conheci e amei e me queixei muitas vezes claro, e eu desci atarantada com os olhos inchados voltaste! caíram os dossiers todos mas tu voltaste, sempre soubeste que os meus dossiers iam ter fotografias do passado fenomenal que me proporcionaste como se tu viesses dum convite para festa e eu agradecida pelas horas formais que esses convites humanos nos proporcionam, que interessa isso, voltaste! ias-te casar comigo agora, ter um cão feio que se baba como tu na almofada, fazer teatros na sala, e eu finalmente deixaria de ser famosa, de ter máquinas robóticas avançadas de mais à minha frente, atrás de mim, agora não, a meu lado só tu, voltaste, vamos ser Reis do mundo e dar beijinhos aos velhos, e vamos ser velhos, ieiuiieiii!

2011-09-14

amor é #12

não precisares sequer de ti para seres tu mesma.

das limpezas

e a dançar caí sangrei. acordei estremunhada, só e abandonada, como naquelas rimas que fazia quando as minhas palavras ainda timidamente poderosas, só assim sem todo o desdém que se ganha depois de muito pisar o mesmo chão. de tanto assim dançar ritmei o mesmo azulejo vezes e vezes sem conta - caí sangrei.
espero ser o hoje este dia em que acordei estremunhada e o meu o sangue que lavou para sempre as memórias do papel onde escrevi desde as rimas, digo, do chão onde dancei desde que o sapateado nas unhas dos meus pés. espero, não de pasmar a olhar para ti nas horas mortas, sem saber o porquê de nunca te ir esquecer na porra da minha vida que tem coisas de mais, um mundo inteiro veja lá, um mundo inteiro só para te perder e te esquecer quase. um mundo ideal, para mim e para aladino, era ter-te a ti e a um papel novo na cabeça todos os dias, percebes? sabes? eu caí e deitei sangue. porquê o sangue sinceramente? porquê sapateado, o velho, o desgastado, porquê a perseguição das rimas do quarto ano quando eu só te quero a ti e a um papel novo e limpo para sempre? porquê tanta coisa e eu sem espaço para dançar, as pessoas a espezinharem-me aquando o incêndio das suas almas? dançar em lume brando contigo, sempre foi escrever. assim, dancei contigo num papel novo para sempre.

2011-08-11

na França então frio

- Por favor, apertem os cintos de segurança e desliguem todos os aparelhos electrónicos. A viagem terá a duração de 2h45.
(porque é que será que duas horas e quarenta e cinco duram mais que uma vida? ela tem de dezasseis anos - estas duas a papaguear ao meu lado, num dizquedisse intermitente e aioqueeutefazia ao hospedeiro, bem que podem ser as suas melhores amigas. e agora, os seus dezasseis anos duraram tanto como a minha vida numa França de emigrantes simpáticos, bonacheirões e mal pagos - duas horas e quarenta e cinco, mais coisa menos coisa.
nesses dezasseis anos perguntaram-lhe pelo pai, decerto quase tanto quanto eu perguntei pela minha filha. o namorado - Deus, já tem idade para namorar! - abraçou-a quando as lágrimas, daquela saudade embrenhada nas marés de lua de um país que já nem sei se meu, romperam ao lembrar um pai desterrado do qual não conhece nem mimo nem coração. e em vez de a querer só minha, cruzei os dedos e rezei, cheio de dor nos olhos - e nos ouvidos apertados do avião - para que um moço de tento na língua e técnica no ferro de engomar - tenho a certeza que ela não sabe passar a ferro, igualzinha a mim que não sabe passar a ferro - a proteja dos monstros da vida, dos bichos na parede, dos homens maus.
quero, ainda e apesar (a pesar também), dar-lhe tudo. a mousse e os biscoitos do avião que dou a estas rapariguinhas ternas e atrevidas, que tanto dão também de si nas músicas que cantam baixinho e quando me perguntam, rosadas de vergonha, se quero jogar às cartas. dar-lhe-ia tudo, a sério que sim, há dezasseis anos para cá se as suas fraldas não me custassem a ida para França. como é que em dez segundos, depois de receber a bagagem, lhe dou esse tudo de dezasseis anos? as papas à boca, os castigos, os beijinhos no dia de anos, as anedotas às suas melhores amigas - pensando bem devia ter jogado às cartas -, o momento aterrador em que me apresenta ao rapaz que lhe dá a mão?)
- A Lufthansa deseja-lhe uma boa estadia em Lisboa.
(...)
- Pai.
- Mariana.
(como é possível um tudo de dezasseis anos bem à minha espera nestes não dez, dois segundos?)

2011-08-02

como se uma almôndega gigante num frigorífico, no maior dos maiores mais incríveis niveís de refrigeração, bem no meio da minha garganta que não anda nem desanda, e depois parece que não sai dali nunca porque as coisas algum dia haviam de mudar e na Alemanha afinal há frio.

2011-07-25

wc pato

sempre sonhei vir aqui de mochila às costas e amor pela mão. é de repente primorosa a maneira como pegas nela agora que nós aqui, no sítio onde sempre sonhei vir, mesmo que com as tuas cócegas chatinhas e eu a querer ver a paisagem, tu a tirares as tão tuas fotografias aos passarocos bonitos e eu a querer dar beijinhos. quando era mais nova e andavamos há uns quantos meses (nós que pensávamos ser tanto tempo!), perguntáva-me umas três vezes por dia se era assim, tão engraçadotes, que nos iamos continuar a amar. e neste instante é de repente que te vejo a pegar assim na minha mão e apetece-me tanto dar-te uma gargalhada e um beijinho... 
hoje à noite como já somos grandes, as paisagens e os pássaros vão ficar na janela e eu, que paraíso!, vou ficar nos teus braços cheia de cócegas e beijinhos. vamos amar-nos como nos filmes de adultos que somos e rir-nos de nós como as criançolas que nunca deixámos de ser.vou poder, assim, dizer que sempre sonhei vir aqui com o teu amor na minha mão.
enquanto a noite não vem, anda mais depressa, o Gerês é muito grande e a mochila cansa-me nas costas! vamos dar beijinhos aos pássaros nas cascatas e vamos os dois tirar fotografias pelo meio das pedras. hão-de orgulhar-se de nós!
e agora tenho de sair da casa-de-banho e olhar para as nuvens todas ao meu lado nesta máquina que me leva não sei para onde pelo meio de dores de dentes e ouvidos. quem é que inventou o turismo além-fronteiras? e porque raio há janelas nos aviões se é tudo tão inalcançável à distância duma queda que passamos a viagem a imaginar? e ainda por cima não vens comigo, sentado no banco da janela que eu não gosto?! vou voltar para a casa-de-banho. irra, viva a realidade aumentada das sanitas.

2011-07-13

o amor não faz qualquer tipo de sentido e qualquer tipo de sentido não faz um amor deste texto

espremeste-me o cérebro. e com isto tudo bem espremidinho, sobraram os lóbulos das orelhas apenas e, kinder surpresa!, não importa. gostas dos meus lóbulos das orelhas e o meu cérebro é dispensável nestes dias. verdade? agora as lágrimas vão passar a correr pelos lóbulos das minhas orelhas que já de si eram espalmadas na pequena zona da cartilagem onde é possível apanhar um escaldão, se for contigo à praia que é o costume quando nenhum dos nossos neurónios trabalha. agora sendo assim, vamos à praia todos os dias, com os nossos cérebros espremidos até ao fim e as lágrimas empurradas para dentro dos nossos lóbulos tão cheios de orgulho. comi-te os olhos no outro dia, e tenho a dizer que não soube nada bem. vês sempre mais à frente desviado à esquerda que eu.
sim, meu amor, teve de ser. de qualquer maneira - pensei - os meus pés vão sempre ficar intactos dada a tua especialidade em mos massajares: enquanto pés para andar palavras para escrever, o que necessita de um cérebro para pensar. e enquanto o meu cérebro ajudar o meu coraçãozinho a bater do outro lado de mim, o teu, eu vou gostar de ti, num banho qualquer de sangue e chocolate destrutivo e extremamente prazeiroso. mas por favor pára de maldizer os meus lóbulos das orelhas.

2011-06-15

das saudades a dobrar

hoje ao lanche esperimentei três qualidades de bolachas e nenhuma me soube bem. e as tuas fotografias agora têm um certo magnetismo especial e incontornável. que não me dá para mais nada. pendurei uma na parede e ficou bonita. mas aquela parede... falta qualquer coisa. falta qualquer coisa à escola, às nove da manhã, às sextas um pouquinho antes das cinco. falta-me sentir que estás só um andar debaixo de mim, nem que seja a vender rifas, para ficar feliz. falta-me andar a pé contigo depois do almoço. faltas-me e eu não gosto disso.
por isso é que já falta pouco para mudar tudo mas continuar a ser, contigo, a ser nos teus braços, a deixar de escrever coisas melosas e sem nexo como esta.
porque meu amor, saudade não é para se sentir. as saudades são como as minhas enxaquecas: é atacar logo mal sombra de dúvida no olhar (às vezes no ouvido).
olá palavras. eu não vos disse que nas saudades era entrar a matar?

2011-05-29

'não tenho culpa, não tenho não tenho não tenho

se dizem que o amor muda o mundo, a gente entende que é o nosso e senta-se feliz da vida, a exigir ursos de chocolate. se dizem que o amor faz as gentes felizes, pensamos nós que são as duas pessoas intervenientes num amor que corta a respiração do coração num só golpe potente e audaz. se dizem que o amor não nunca se desperdiça, então dois amantes não se poderão separar.
os dias passam, as folhas caem das árvores, o aquecimento global continua, as pessoas cantam em coro "neste mundo que não sabe amar", e os apaixonados deste vida não entendem, não atingem que quando há amor o centro do mundo passa a ser não dois umbigos juntos para todo o sempre, mas todos os umbigos da população mundial (contando com todos aqueles que contêm em si mil e quinhentos umbigos, compram os vestidos favoritos de toda a gente, mandam lixo ao chão e reivindicam um planeta melhor só por si). e se dizem que o amor se partilha, não é tão-só numa cama apesar disso ser bom como tudo, mas é para o dar ao homem do supermercado, ao atrasado mental das finanças, à sem-abrigo-emocional que pára todos os dias no café! que o amor dá vontade de gritar ao mundo 'eu sou feliz!!!!!!!!!!!!', todos os que se apaixonam sabem de cor e salteado; acrescentar a essa repetidíssima expressão um 'tu também podes ser!!!!!!!!' não tem mal nenhum acho eu.
e portanto o que eu queria mesmo dizer, e aproveitando que amor e missão não dão para sair das minhas mãos por estes dias, é que cabe aos que acham que ainda dá para amar um bocadinho, neste sítio de rios poluídos e cabeças espezinhadas, mudar o mundo.

2011-05-25

da insuficiência da arte

conheci-te a história completa das tuas antologias de poemas divergentes, os teus, nunca revelados na arte desmedida e popularuxa que teimavas em criar de papéis e tesouras até tão tarde no quarto ao lado. conheci-ta e, pintando-a de tons mais clarinhos como as pétalas que te vesti nos meus próprios olhos, contei-a aos outros pelo mundo, encaixada numa narrativa incipiente, estilo barba-mal-feita, vida minha com um destino do qual nunca quis saber.
conheci-te a história, completa na minha boca, e aceitei sem esforço que viesse dos livros e não dos teus cantos soturnos, dos teus vestidos nos quais reconheci-a sempre algum tecido que morou na nossa casa e que eu pensara ter desvanecido, da tua boca digo-o já, da tua presença na minha vida insuficiente desde que tiveste idade para ir e espalhar a tua arte, ao fim ao cabo a arte de viver de leve sorriso no coração.

2011-05-17

amor é #11

e o amor é, a partir não de hoje mas de há já algum tempo que não te disse, eu a amar-te todos os dias numa coisinha minima diferente seja cada um dos sinais que descubro na tua cara seja a tua cara quando te chateias comigo e fazes crrrrrrrrrck ao meu coração; o amor é e já foi nós a amarmo-nos sem saber numa distância de paredes grossas de salas de aula antigas para quem devia aprender na rigidez de um pátio, nós a amarmo-nos nos nomes feios e nas torturas meio a brincar (nunca sei se meio a brincar se meio a sério); e o amor vai ser as pessoas a descobrir que ainda há estúpidos como nós, num amor que sobrevive autista e cheio da ciência da parvoíce e da falta de razão, ainda há estúpidos como nós que se empurram e gritam meio a sério (nunca sei se meio a sério se meio a brincar) e dão beijinhos de todas as maneiras e feitios que lembram ursinhos abandonados e países longínquos. dado está que o amor é, meio a sério meio a brincar sem tirar nem por, os nossos beijinhos que vão mudar o mundo que nesse dia vai aprender a cantar monocórdicos a abanar os tótós da cabeça, e a sorrir ao ver que ser e amor é, a partir daí mas de há já muito tempo, praticamente o mesmo tirando as letras e a conjugação.

2011-05-08

quando te olho nos olhos é mentira

o sitio mais bonito do mundo é o canto dos olhos. ainda falam nos cabelos loiros e na solidariedade jovem, mas isso passará. todos vão ver: o sitio mais bonito do mundo é o canto dos olhos. não há ponto algum de emoção estampado no olhar de estranho que seja. fixa o canto dos olhos, o sitio mais bonito do mundo, e talvez encontres então o esgoto de sentimentos dos olhos humedecidos em questão (olhos brilhantes não existem: convençam-se! apenas se trata de um reflexo de lágrimas no canto do olho com o sol tão lindo lá em cima, que não se pode olhar de frente, e nos faz lembrar uma tia que morreu. a tia saltava sempre que via um bicho e depois desfazia-se em gargalhadas, olhava para nós pelo canto do olho, o sitio mais bonito do mundo, estampado em cumplicidade, ia para dentro da cozinha e na volta um bolo sonhado por ela no meio de cantorias desgarradas.)
tenho um sério problema existencial dado que gosto muito de crianças e me volto sempre para elas na rua e sorrio sempre muito e elas nunca olham para mim! no outro dia voltei-me, muito chateada, a refilar com o chão que tudo viu. e quando os meus olhos baralhados a tentar pousar no chão passaram levemente por aquela bonequinha de tranças pretas atentaram naquele pequenino cantinho do olho, o sitio mais bonito do mundo, e ela a julgar-me os cabelos, a gabardine, o andar destrançado.
e foi então que todas as pessoas repararam que o sitio mais bonito do mundo são os teus cantinhos dos olhos. eu não vi o amor de frente.

2011-03-23

quarta-feira

funeral é como que um dia fora da vida em que morres com a pessoa que perdeste, para a ajudar a ir.. para onde devemos todos chegar.

2011-02-26

é?

e ficou para sempre na memória a recordação daquele dia de sol de inverno que aquecia os cabelos mas não a mão que passaste na minha cara enquanto dizias és tão bonita e eu fechando a boca com muita força com medo de que o estomâgo não se segurasse e as pernas não se aguentassem e os olhos saltassem das órbitas já que todo o universo o fez e foi por isso que o planeta deu um pulo nesse preciso momento, mas como és não uma pessoa distraída mas uma distracção pessoal, não reparaste e os teus dentes continuaram a sorrir para mim como se o primeiro dia em que ora bom dia e nunca mais me largavas. acontece que agora já não eu uma flor mas tu, a minha pessoa sim uma personagem fantasiosa qualquer, que teima na reforma das nações para um estado unificador de alegria, bondade e comunhão com a natureza, e que apanha a mesma flor todas as manhãs para a usar o resto de todas as noites, por lhe adorar as cores.
quando o teu coração me fala disfarçado pelos teus dentes pelos quais eu juro que não tenho fixação alguma, é tudo isto que me apetece dizer e falar e conversar aos beijinhos, mas e se o estomâgo não segura as pernas não aguentam e o os olhos saltam, coração?

2011-01-28

amor é #10

ter histórias para contar.
(aquela fotografia maravilhosa do par perfeito a dançar à chuva não é um mito, não senhor)

2011-01-15

de qualquer coisa

'pareces a alice no país das maravilhas. é como se tudo estivesse sujo, o chão cheio de cigarros, as pessoas cinzentas e tu sorris, como se estivesses a ver a Amadora pela primeira vez.'
(juro-te que, aí, vi tudo pela primeira vez)

2011-01-06

recibo de sentimentos

1500 1,2,3, macaquinho do chinês
1500 valores e princípios devidamente hierarquizados de acordo com a pessoa que achamos ser e ter de ser
1500 livros antigos e raros e cheios e belos
1500 murros na parede
1500 copos partidos
1500 sorrisos com dentes com tudo
1500 bolhas nos pés
1500 lápis arco-íris para a alma
1500 folhas rasgadas
1500 banhos-de-lua
1500 tostas de queijo e mel
1500 saudades propositadas
1500 miminhos de Deus
1500 comprimidos de paracetamol para as dores de cabeça
1500 danças à chuva
1500 napolitanas de chocolate
1500 lances de escadas
1500 lentes de contacto
1500 palavras dos olhos

REEMBOLSO REACTIVADO
A pagar: um coração e meio
Troco: felicidade não-perigosa ilimitada entre utilizadores da mesma rede

(sim, porque a maior parte das metades dos corações que andam por aí acham a felicidade um cargo de alto risco, tratando logo antes de mais de garantir a sua morada, hipotecada ou não, numa das 1500 ruas da amargura. ora se eu já paguei isto tudo, vão-se lixar com f (vulgo, foder) se acharem que eu (ou qualquer eu que seja) não posso sair porta fora e ser feliz (é que o Sol brilha e fá-lo só para mim), sem querer sequer saber o porquê da felicidade me perseguir. guardo sempre uma dízima de carinho para o que me persegue, sabes?
é só uma coisa: já pagámos todos muito. portanto, sejam felizes, não vão ser liquidados por isso.)