2011-10-22

a minha cidade (versão cinzenta)

na minha cidade não há nada para ver: a minha freguesia é um conjunto de dormitórios inacabados, faltosos no que diz respeito às secretárias para estudar e às fotografias dos momentos importantes. não é que tenha tempo algum para a admirar - tenho ginástica à segunda, saída com amigas à terça, noite no facebook à quarta e janto com o meu namorado à quinta, sendo que nos dias que se seguem estudo e faço alguns tpc's -, nem tão pouco necessidade. tenho tudo o que quero, o meu quarto bem decorado e o meu guarda-roupa é o mais apetecível de sempre! quando era pequenina, atrapalhavam-me os passos rápidos das pessoas, a indiferença com que apanhavam o mesmo autocarro que eu quando ia ao parque dos pombos com a avó. ela andava sempre muito devagarinho, mas eu tinha paciência porque gostava muito dela. já morreu. hoje, compreendo que frete fazia quando me levava à pasmaceira das sombras das árvores, sempre as mesmas, sempre comigo, que só queria correr e dizer disparates. hoje teria, decerto, poupado a minha querida velha senhora a tal aborrecimento.



3 comentários:

Ana disse...

Ler-te provoca-me sempre um desconforto saudável. :)

Susana disse...

Um texto que, vindo do nada, apetece ler muitas vezes.

Anónimo disse...

As saudades que vêm depois de ler este texto...