2011-10-22

a minha cidade (versão cinzenta)

na minha cidade não há nada para ver: a minha freguesia é um conjunto de dormitórios inacabados, faltosos no que diz respeito às secretárias para estudar e às fotografias dos momentos importantes. não é que tenha tempo algum para a admirar - tenho ginástica à segunda, saída com amigas à terça, noite no facebook à quarta e janto com o meu namorado à quinta, sendo que nos dias que se seguem estudo e faço alguns tpc's -, nem tão pouco necessidade. tenho tudo o que quero, o meu quarto bem decorado e o meu guarda-roupa é o mais apetecível de sempre! quando era pequenina, atrapalhavam-me os passos rápidos das pessoas, a indiferença com que apanhavam o mesmo autocarro que eu quando ia ao parque dos pombos com a avó. ela andava sempre muito devagarinho, mas eu tinha paciência porque gostava muito dela. já morreu. hoje, compreendo que frete fazia quando me levava à pasmaceira das sombras das árvores, sempre as mesmas, sempre comigo, que só queria correr e dizer disparates. hoje teria, decerto, poupado a minha querida velha senhora a tal aborrecimento.



2011-10-09

Deus não é só pessoas

e dum nada que inspiras
as imagens turvam,
excitam-te, as palavras dum nada
a base do teu pescoço, um prédio na cidade,
passam nas tuas veias e outros canais quaisquer
aço puro que te corta por dentro
correm outras atrás a dar beijinhos
e a electricidade que te transpira dos dedos escorre no papel
um presente de fel.
sinceramente era só para rimar, agora que só a desilusão duma calma obrigatória duma vitória ilusória marcada pelo sorriso das pessoas às coisas que bonitas que tu, e tu e tu e tu, lhes mostras realizada e satisfeita, o mundo um mar com barquinhos e gente feliz mesmo que choraminguices de quando em vez. não, querida, é só mais uma das terríveis mil alturas em que vais ter de te atirar para um dos lagos, refrescantes e cheios de gente feliz mesmo que gritos lacerantes de vez em quando, e previsivelmente cair no chão, agora que até as palavras te cortam e te fazem sangrar estrelinhas desperdiçadas, agora que só palavras em aço inoxidável agarra-te bem a elas que a cor é bonita, podes saltar, ficas sozinha mas agarrada a elas e não tens de temer.