2010-10-30

a mulher moderna

a minha vida não é todos os dias. passa-se à sexta-feira, às 18:08 mais coisa menos coisa, quando o comboio que vem de Mirasintra (não tenho a certeza se Mirasintra) trava e faz barulho na linha 4. amigas que ostentam com orgulho o mesmo estatuto que eu, solteiríssimas e bonitíssimas por opção, (supostamente por opção), sorriem com admiração ao elogiarem-me o facto de ter sido pioneira nestas andanças.mas o que se passa é que não deixam de me olhar com mágoa, quando me vão buscar ao balcão de informações que me dá um salário pequenino, suficiente para jantar em casa, decorá-la aos meios centímetros e ir um mês ou outro ao ginásio. olham-me com especial suposta compreensão quando à sexta-feira lhes digo que tenho uma reunião, às 18:08 mais coisa menos coisa, e não posso ir dar uma volta nos combios (livre-trânsito não no ginásio, nos comboios). é que, optimismo e opções à parte, a minha vida não é todos os dias.

2010-10-29

2010-10-27

3 em cada 15 segundos

o que é feito dos que amam como nós? e dos meus textos sobre bananas? porque é que estou com lágrimas nos olhos e nem uma infelicidade hoje? porque é nos textos formais se põe tudo em justificado? onde é que tens aulas a esta hora? (quero ter uma visão tua como naquele filme dos vampiros, só para ter a certeza que gosto de ti como é suposto aqueles que gostam muito gostarem) podemos encontrar-nos amanhã? havia trabalhos para filosofia? Mano, jantas hoje? (com que frequência dá Deus os mesmo nomes?) posso ir a salamanca o mês que vem? lembras-te de tudo, tudo tudo tudo? e se te oferecer uma flor, aceitas? (chamo-me Margarida e sou um jardim) nunca me fizeste os crepes com chocolate. para quando os nossos crepes com chocolate? todas as músicas são minhas (queres um bocadinho?) que filmes estão em exibição quinta-feira a oito? olha, parti os óculos. sempre vamos ao cinema?


(há uns dias)

2010-10-24

cara de rainha, sei bem para onde vais

eu devia estar a estudar. mas estudar dói. porquê tanta gente a descobrir tanta coisa tantos dias seguidos, e eu parada na janela?, a velhota sobe com o carrinho das compras, a menina que se quer mulher hoje desce com cara séria de rainha, uma folha cai (já outono?!) e por ali fica, parada e preguiçosa. tenho a certeza que está a olhar para mim. tenho a certeza que nela também uma dor de apanhar injecções se, por acaso, tivesse de estudar. ela nunca descobrirá nada, nem eu descobri, matérias quaisquer em que sejam necessários o isolamento total da população comum e um estudo de tubos de ensaio quentes e frios. somos meras observadoras em organizações mundias, não lançamos as redes de pesca mas embarcamos de madrugada. tenho a certeza que nela um impulso qualquer e um big bang prontinho a sair nas nervuras já amarelas. sei de antemão que irei amar esta folha. provavelmente inventarei mil e quinhentas histórias para que não morra o amor que lhe tenho apenas porque, parada e preguiçosa, caiu. prometerei que nunca, nunca na vida a tratarei como inferior só por lhe estar a fazer um favor.
amei uma folha e morri por dentro. foi o fado que pus na aparelhagem, nada contra. um classicismo que estimula o cérebro já decomposto e uma secura nos lábios e aparcebi-me sem vida (onde é que eu a pus? tenho a certeza que junto à flor da casa-de-banho, na gaveta mais espampanante que lá tenho, a vida?). então aí, já tenho duas opções. ou morro por dentro e nada vale a pena - o mérito académico, os amores que tive com amigos que perdi, a minha avó de feitio igual, todas as sextas à tarde, apenas pontuais domingos de manhã, as lágrimas de alguém que não meu no bolso do casaco castanho que por acaso tenho de arrumar no cabide quando estudar deixar de doer - e nada vai merecer o meu trabalho, nem eu o dos outros. ou então sai um big bang agridoce do meu coração. já vos tinha dito que não gosto de ver folhas secas na calçada portuguesa?

2010-10-20

a luta continua #4

- podemos falar todas?
- não.
- vai dormir uma horinha, está bem? andas cansada.
- por isso é que eu queria falar...
- NÃO! não é a falar que as coisas melhoram, não é a falarmos que vamos sorrir de novo, que vamos andar todas aos abracinhos, não é isso que andas para aí a dizer, que não podemos falar? vai dormir então!
- é só que, vocês sabem, eu tenho de estudar, vou ter lá abaixo ao café daqui a nada, não dava muito jeito.
- porque é que nunca te dá muito jeito viver com coração?

2010-10-18

eu: três montanhas e um rio

acordou estremunhada e nem um esforço para adivinhar em que posição acordara e no que estaria já a pensar. levantou-se e desinteressada abriu os estores, sabendo de ante mão que isso a iria atrasar uma boa meia hora. demorou-se em tudo -  a tomar banho, a calçar as meias, a escolher a roupa sentada no roupeiro (porque razão me sento eu no roupeiro?), a descer as escadas, a pensar em bons-dias vazios, a comer qualquer coisa (pai, lembras-te do que acabei de comer?). saiu de casa e foi à exposição dum conhecido - fotografias de pessoas cheias, os olhos (o brilho?) vazios. comprou bilhete, subiu as escadas num momento e pôs-se no comboio esquecendo a paisagem que sempre lhe fizera cocégas, chegou à escola, não viu ninguém, foi à aula (nunca um atraso) e seguiu. à noite sentou-se e esperou até à hora em que as pessoas de vida cheia se vão deitar e deitou-se, fechou muito muito muito olhos porque ninguém vazio quer o entretanto antes do sono.
(click)
acordou e riu-se para si dos braços caídos, pôs-se num ápice na janela e piscou o olho ao céu por estar bonito só para ela. rasgou um papel do caderno do irmão e escrevinhou isto na sede saudosa dum espírito que sempre seu lhe oferecera céus destes, pintados por si (então um sol cor-de-rosa-pastilha-elástica, o céu azul-pena-de-pato e nuvens verde-aguarela). mesmo que atrasada, sentou-se no roupeiro e escolheu a roupa, comeu um quadrado de chocolate (tu continuas a comer disso em jejum?!)e foi-se embora, encher bons-dias. não se lembra de quem viu mas foi às aulas e seguiu com sorrisos cheios de cantigas de amigo que ia encontrar faz anos depois, chegou a casa e deitou-se cedinho, porque toda a gente anseia por um entretanto com quem ama.

2010-10-17

vem aí o inverno

o facto de eu andar de saltos em casa está directamente relacionado com o meu gosto por sandes de carne assada e queijo (queijo daquele amarelo tipo mcdonalds). o facto de me dizerem que me enquadro sem me enquadrar faz-me parecer uma monalisa falsa e assimétrica, com apenas um meio sorriso (meia felicidade? ou felicididade às metades?). o facto de estar sentada a escrever, numa máquina traidora que me esfaqueou toda a confiança que nela tinha depositado, e o facto de estar a gastar palavras (lindas que me tiram os picos e o escuro) a falar dela, não tem exactamente a ver com nada, já que isso do nada gosta muito de mim. mas eu sou uma guerreira, sou! faço makahamé se for preciso e dou-te beijinhos se te aleijar. como uma verdadeira poetisa, que seria se realmente fosse uma lutadora eloquente, que usa sapatos extra extravagantes e isso tudo. e poetisa que sabe estar, ainda assim.
vale-me o facto de nunca ter posição, de não parar quieta, porque ainda tinha de ir a Bragança hoje ver se uma loja artesal de que me falaram ainda estava aberta (só ver). valer valer, valem-me as palavras, que se não fossem elas em vez de sentada eu de cócoras a deprimir, a dizer que as borrachas para além de não me apagarem toda, contigo incluido, não param os raios. (afinal o tempo lá fora diferente do que eu imaginara).

2010-10-15

tenho dito, um bocadinho diferente

é bom estar de volta, mesmo quando sozinho num mundo que não o teu. (procuro urgentemente hotel não muito caro onde deixar o meu coração porque o resto foi de férias)

2010-10-13

BISCAS BANANA

esta é para a biscaia. não me interessa se pessoal. esta é para a biscaia, porque se hoje não fosse para ela nem sequer ia ser hoje. para já, NÃO GOSTEI de ir com os joelhos contra a quina de madeira da cama que está no canto esquerdo lá a frente ao pé da janela, porque uma pessoa quando chora merece dignidade! mas gosto muito de saberes porquê é que faltei às aulas hoje e nem tomaste o pequeno almoço com a minha mãe. também gosto muito de te impingir almoços com tangerinas, e gosto muito de dançar à monga contigo. hoje vou mesmo dizer a porcaria toda que a gente faz, até os teatros no meio da rua. assim não te ligo a deprimir pela vigésima quinta vez esta semana (número real). lembraste do velho dos pombos? e do saco do pão que te está neste momento (caraças pó pão) a mutilar o dedo? e de dançar à chuva a dança da melonga até à Igreja? já chega, vá.esta é para ti, e dispenso lamechices porque os meus olhos andam sensíveis (juro que é das lentes). quando for aí a casa vais ficar sem o calendário geológico.

2010-10-12

sou para ti, pequenino.

olá pequenino. como sabes, sais à tia e tens bicho carpinteiro. sei perfeitamente que só tu me compreendes (ai de ti que digas ao pai!), e agora que já sabes disto das palavras, tens mesmo de saber o que elas vão contar para ti. elas são como tu, e como eu: têm bichos por tudo quanto é sitio, coçam o nariz, dão cambalhotas, brincam com as pestanas, tremem os joelhos, coçam o nariz, brincam com os lábios, mudam de posição e dão cambalhotas. mas vais ter que tentar ser como elas quando tiram as pessoas do escuro, quando fazem os olhos de pessoas como nós brilhar (e sem ter de olhar para o sol!). um dia, as palavras vão desiludir-te, quando fores mais moço que menino. mas não lhes ligues - sabes como são distraídas. vai chegar a altura, também, em que os teus amigos, mais moços que meninos já, vão precisar de ti. e não vai ser para brincar à apanhada. aí, não ligues a quem te diz mais menino que moço, porque vai ser tempo de seres homem; pede ajuda às palavras. vai chegar ainda um minutinho, talvez apenas uma dúzia de segundos da tua vida que vão ser os mais importantes da tua existência. vais conhecer uma menina (se fores homem das ciências perceberás que componentes reagem aí dentro), uma princesa, por quem vais ter de ser capaz de acordar cedo e perder o teu programa de televisão preferido. ainda por cima, as donzelas costumam ter um feitio danado. não lhe ligues: vais saber-lhe a distracção de cor. já te contei, antes de adormeceres, porque é que fiquei para tia, só para ti. haja o que houver, quantas semanas forem, e quantos berros deres no meio de discussões: não sejas como eu, nem como as palavras.

vá lá

vem princesa, e deixa o teu coração sonhar

(aladino)

2010-10-11

atchiiiiim

quando eu espirro (e acabei de espirrar) lembro-me do meu avô. que está lá, na casa dele da outra banda a tratar dos cães dos vizinhos, e que diz que eu sou má, e nunca lá vou aprender a andar de bicicleta, e que quando cá vem me tira o ar com os abraços cheios de dor do reumatismo (artrite?). o meu avô que atura a minha avó com as rastas que ela põe e com as idas ao ginásio, que vai dar uma panela de pressão à minha melhor amiga quando ela casar, daqui a muitos anos porque namorar faz bem à saúde e a faculdade também conta. quando eu espirro tenho de ser feliz, porque uma pessoa tem de sorrir para o esforço, diz ele, que só tem rugas de felicidade (não tem sequer aquela entre as sobrancelhas, é de rir de barriga cheia). espirro pouco no verão. porque é que nunca me amo no inverno?

2010-10-10

porque hoje me dói o ouvido

o nosso amor é como a família - não se escolhe. o que me leva a perguntar onde estarão aqueles que andam de família de acolhimento em amor não biológico, e onde estão todos os que se chatearam com aqueles, que estando cá dentro não se escolheram, para sempre. os que como eu se cingiram ao quarto do fundo, ao anexo da casa. que nem a uma data de início com tantos anos de bagagem têm direito. que, ficando com as meias rotas e isso tudo, não deixam de se sentir orgulhosos daquelas pessoas que não escolhemos e que muito menos nos escolheram a nós, e de ganharem o dia com sorrisos sem olhos nem dentes entregues a quem precisar de menos de meio segundo de alegria.

2010-10-06

nunca sei dos travões

podias-me ter dito é a frase que mais me ouço dizer. à minha mãe, ao meu vizinho, àquele amigo esquecido duas ruas abaixo. mas a mim mesma. um tumtum desesperado, e um pfff de remédio que tem de ser feito, só porque sou distraída e a maior parte das vezes, de alma leve e grata. podias-me ter dito que já não havia manteiga, podias-me ter telefonado antes de adormecer, podias ter-me dito que mal uma distância de mais 10 km iamos desaparecer da vida um do outro. podiam-me ter dito, as árvores, as escadas onde escorrego todos os domingos chuvosos, o Jardim Zoológico (não, à 2ª não vai ser de vez), os croissants aquecidos que ias crescer mais que eu, a velha do papel higiénico que nós as duas não iamos dançar mais à chuva. podiam-me todos ter dito que ia ser assim, e provavelmente cairia exactamente no mesmo sitio, mas já não tinha desculpas. podia ter-me doído a anca, estar mais sensível por causa do período, ter um chapéu-de-chuva amaldiçoado; tinham-me dito.

2010-10-03

ainda estou para perceber

hoje, que toda a gente fala da chuva, eu digo-te, o nevoeiro é muito mais além. sentada com um anormal, fria da chuva, a casa de portas partidas e paredes doentes tomava as formas que bem quisesse. isto porque o nevoeiro é meu amigo. isto porque a capela molhada continua a ser acolhedora, e um amor vazio continua a ser mágico. hoje não sei que escreva, porque a chuva passa a vida a trair-me. antes eu até me sentia bem. uma manta azul e cabelos molhados porque pessoas normais hão-de sempre ser chatas, e eu a modos que estava contente. mas o nevoeiro dissipou. afinal tinha mesmo voltado a ser quem era, onde sempre fui. bolas. raios partam o nevoeiro.