2009-12-31

tenho dito #4

NÃO SEI O QUE QUERO PARA 2010.
(podem ter peninha por ser uma inresolvida e darem-me tudo do melhor que têm para dar? ;)

2009-12-29

mim para mim

tenho raiva de ti por nunca me deixares contar o que passamos juntas. mais, tenho raiva de ti por só tu, flor feia, saberes tentar enfeitiçar com palavras. mas não penses que te vais esconder sempre atrás de mim. aprende a ver a vida de frente, menina, e não só o céu. aprende de uma vez que o mundo onde vives já não gosta de flores de campo, não que queira que deixes de o ser. gostava era que não te escondesses atrás de mim, cosmopolita assumida, que se tem de deixar levar pelos teus devaneios suaves e frescos.
tenho raiva de ti por nunca me deixares contar o que passamos juntas. flor feia, a vergonha é moda antiga, e apesar de durona, sei partilhar. ela herdou de ti o cabelo selvagem que não sabe se liso ou ondulado; mas por mim, consegue erguer o seu pulso firme. não sou assim tão má como me pintas - e como gostas de pintar, Céus - e, quer queiras quer não, somos uma só, de cabelo selvagem e pulso firme. não uma só como amantes cegos e lamechas, mas uma só. literal e figuradamente. e por isso te digo: não é assim tão mau seres-me, flor feia.

2009-12-26

o muro caiu

cheira a castanhas e a alguma coisa que já se perdeu. o meu nariz está congelado mais os olhos de muitos que dizem sentir o espirito duma alegria que já passou, ouvi dizer. mas ainda se cheira, ainda se vê, ainda se tem frio e há quem ainda repare na lua meia cheia por cima do éden. o velho alucinado, chamam, não deve reparar. mas tem razão, esse velho alucinado por vivências de mundos como nós não conhecemos, quando diz que a criança que viu aos pulos de alegria por ir ao grande hamburguer de plástico não é mais que uma pobre infeliz sedenta de lixo. mas eles não sabem que o pobre velho alucinado, gelado por debaixo da roupa alheia que trás, tem razão no que grita ao mundo, esse sim alucinado, e exclamam espantados que estão perante a cidade do terror em estado puro. mas a flor cá dentro esperneia que congelados estão os olhos.

2009-12-25

tenho dito #3

adoro quando o meu avô chama fera à minha avó à frente de imensa gente. adooooro.

2009-12-23

perfect mess

quando eu for crescidinha, espero um dia vir a sê-lo, quero esta desarrumação inspirada permanetemente no meu atlier (sim, quero um na minha casa!), esta confusão de revistas, recortes, colas, tesouras, velcro, canetas, lápis, réguas, livros, diários, cadernos, recordações, jornais, fotografias. todo o santo ano, porque é assim que me sinto bem, sem descorar nos quilos de chocolate de leite. e depois, no natal, quero que este se encha de listas do que vou fazer para quem, de folhas escritas à mão com memórias a transbordar de lições de vida e carinho. sempre achei que as únicas prendas de natal que faziam sentido eram as que passavam pela sequência coração-(pseudo)cérebro-mãos-secretária-porta-casa do amigo- mãos-coração. este ano, apaixonei-me por elas.
UM EISH DE NATAL PARA TODOS, corações :D

2009-12-20

ovelha negra

acho piada quando te gabas da tua independência insolente. esse teu vicio de não os teres, de achares que não há por aí ninguém que te prenda ao mesmo chão dois tempos seguidos, de te saberes leve o suficiente para dançar na chuva perante todos. perante mim, e sabes o quanto odeio assistir sentada a espectáculos em que fui inicio, meio e fim nos bastidores. gozas-me por ter de passar a vida a ir ao pingo doce comprar chocolate e por não deixar de sorrir àqueles de quem gosto, por pior que me façam.

e eu continuo a achar piada à tua independência insolente. continuo a anuir quando me chamas viciada em tudo e em todos. quando me avisas que para o mês que vem não podes ir comigo à fnac do alegro, para nos deitarmos de barriga para baixo na secção de romances históricos, mas que me telefonas de havana com histórias prometidas nas minhas folhas em branco espalhadas em tudo quanto é parte.

é que apesar de tudo, sei-me dependente compulsiva. mas até acho piada a essa senhora de mala rigida pop-art, que é a única de quem sei ser independente. independência, nome e feitio.

2009-12-14

meias da avó Eduarda

e hoje venho aqui sem meias palavras. sem meias medidas, meias bias, meias flores. sem meias, estou descalça. estou descalça, e até sabes o quanto gosto de andar por aí assim. portanto, é porque gosto disto assim, descalça, com todos os meios corações juntos e apertadinhos. eu sei ser. e ser feliz é isso. andar descalço, juntar metades e fazer delas cabeça, tronco e membros. no fim do dia, ser feliz é uma definição qualquer entre o comodismo, o amor e a ambição. de qualquer das maneiras, a ambição disse-me olá. o amor veio e deu-me dois beijinhos, o comodismo apareceu e puxou-me para o colo. e eu, descalça, por entre o tímida e o extasiada, fui feliz às metades.

2009-12-10

perfect christmas wish

estava sempre a desenhar flores. a esferográfica azul, flores numa folha de linha, desajeitadas. dizias sempre que eram bonitas, flores de campo não se fazem alinhadas. e eu estava sempre a desenhar flores, e tu fazias outra coisa qualquer. adivinhava-te, em folhas de linhas não floridas, a dobrares arte por entre os teus dedos grosseiros. bonitos, que dedos trabalharadores não se fazem alinhados.
'mania de dobrares papel', refilona. desconcentrava-me esse som dos meus rascunhos floridos.
'mania de o escrevinhares', e beijavas-me na nuca, adivinhando-me os arrepios.
com o tempo desabituaste-te a espreitar os meus papéis floridos, para depois os vires pedir em alvoradas seguintes. eu dava-tos sempre, na esperança de em vez de rosas, me dares girassóis de papel. e foi num seguimento dessas manhãs esperançosas, despois da emancipação feminina da lição 60 e tal da aula de história, que me disseste que me querias arrepiar até deixar de fazer flores em folhas de linhas. que, apesar de nunca termos sido alinhados com o vento, nos querias a voar em campos de girassóis desajeitados. foi aí que eu comecei a escrever-te em pretérito imperfeito, que de contradições percebo eu.

2009-12-07

tenho o colestrol elevado

sim, eu já perdi. mas, no fim do dia, és só mais um jogo que insisto em jogar, que vou perdendo, jogando, deitando as mãos à cabeça, sonhando e jogando outra vez. isso da pureza, dos campos com flores e do sal do mar nos lábios não se compara a ti, meu jogo preferido, era o que diriam se me vissem aqui, agora. mas há quem saiba que só te jogo por pena de deixar passar, sou possessiva, passiva-agressiva. e tu és um jogo de cartas monossilábico.

2009-12-05

keep your fingers crossed

que o pior está para vir. cruza os dedos, as mãos, as pernas, os pés, tudo. depois sentamo-nos os dois nas escadas e esperamos, que o pior está para vir. e falamos, de conversas perdidas em viagens de carro aborrecidas e tardias. o pior está para vir e ninguém acredita. mas todos o sabemos. por isso, por essas ruas, gozadas de nome, por essas ruas, jardins, estradas e escadas, muita gente se senta. e desconversa a maior parte das vezes.

o pior chegou e nós não reparámos. estavamos a falar de coisas nunca descobertas nestas ruas. coisas gozadas, mas para nós o pior passou. está aqui, ao nosso lado, mas passou. passou e já sabes que vou chorar, tenho medo pelos outros. porque sei, e tu também sabes, que eles não têm medo de desconversar. mas eu tenho, tenho medo que venha uma onda e tu já não aguentes mais aí sentado. e depois eu já não vou ter ninguém com quem falar de coisas perdidas, e perdida já eu estou noutras ruas que não esta, farta de ser gozada por pessoas destemidas. e tenho medo de me sentar, perdida, e desconversar.

qualquer dia vem uma onda e leva-me a mim.

maçã de adão

tenho medo de vazios, odeio preenchê-los desta forma. detesto pensar assim, que os vou sentir para sempre. chego a ter pena de mim por não perceber que o quê crucial das mãos não são os dedos esguios, o tom de pele e a beleza apresentável das unhas, às vezes roidas. mas que o ponto culminante da sua magia é mesmo o facto de não estarem sempre presentes, como tentáculos apaziguadores.
sei de mãos que se foram já, duvido que alguma vez se tentem por estes lados. mas não tenho muitos problemas com isso, visto pelo prisma do 'vai ser bom, não foi?', que mãos temos pouco tempo para andar acorrentados a elas pelas ruas. e se andamos, somos então transeuntes desesperados por pontas soltas de carinho e atenção. sei que não gostas de afectos, mãos acorrentadas desde tempos muito menos, mas adoro ter as mãos pousadas no colo e ver as tuas trabalhar, soltas e leves, para mim.