2010-06-30

às fadas

isto da imensidão das palavras acaba por me assustar um bocado. sou pequenina e imperfeita, e como pessoa confiante, tenho medo destas magias todas que sabem ser como eu. não deixo de gostar delas e é por isso que, em dias como este, em que me sinto especialmente miúda (não menina, miúda), lhes venho dizer tenho saudades vossas. sem desculpa lá, sem itálico algum. eu tenho saudades vossas. lembram-se de como eu me ria convosco, do quanto eu chorava por vocês? ainda o faço, ainda tenho saudades vossas. tenho-me tornado maior; e tenho medo (porque não é mais, é maior). mas não se preocupem, sabem o que o mar me faz ao cabelo (e à cabeça!). tenho ido à praia e pintei as unhas dos pés de rosa barbie. andei descalça num parquezinho qualquer e sujei os pés, mas eles continuaram cor-de-rosa, logo, não há espaço para preocupações (vou dizer...), pequeninas.

2010-06-20

desculpas

a bandeira, a meia haste, acariciava as agulhas quentes do pinheiro (não é um pinheiro) cinzento pelo ar frio da madrugada, a pedir calor. o meu pinheiro, disse ela para a bandeira, a meia haste, descendo a rua e apertando o casaco contra si, a pedir calor. com voz mais pura, sentou-se no chão português sem desenhos e começou a narrar os segundos fantasiosos da alegria que o frio da manhã lhe trazia. a bandeira, a meia haste, envergonhou-se no pinheiro e ela, com voz pura, narrou-lhe isso mesmo. a bandeira deixou de se sentir envergonhada; mas sentiu-se triste, era uma desculpa para a menina, uma desculpa para ela contar histórias. passou uma senhora. a menina, com voz pura, contou-lhe da bandeira: àquela hora os que passavam eram boa gente, gente capaz de se sentar no chão e falar. era uma menina loira, olhos azuis e pouco da vida (não era pouco da vida) e uma senhora que, depois de muito rebolar na cama, se levantou para se sentar num chão que lhe era alegria. eram duas mulheres, uma bandeira e uma árvore (não um pinheiro): eram uma desculpa para escrever.

2010-06-06

céu limpo

dizem que os poetas são sofridos e que as pessoas que se usam das letras para não sofrerem depressões não conseguem escrever quando estão minimamente felizes e é verdade. eu que o diga! estou minimamente feliz e estou triste com a minha atitude perante as palavras, essas que me tiram dos picos e ensinam a dançar. mas, e porque elas são minhas amigas, viram ter comigo com a mesma força e alma de sempre (agora que eu tinha de ir fazer xixi e aquecer os pés). acho que vieram para se vingar e, como dá para ver, estou-lhes a fazer o favor.
criou-se o estereotipo de que o obscuro, o amargo e o sofrimento são muito dificeís de descrever. e são! por isso é que há mares e mares de tinta com lágrimas derramadas em cima. de fazer chorar o meu avô! e o meu avô não chora (lá por causa das teorias dele). mas eu e as palavras com a mínima felicidade à mistura não dá. isso e a expressão 'more than words'. também não dá. o facto não é que as palavras não chegam. somos nós, sou eu vá (eu é que devo ser aqui a esquisita), que não chego lá. não tenho a capacidade de relacionar a palavra nuvem com amor puro. por isso é que não escrevo quando estou feliz. há em mim o medo de estragar aquilo que é tanto quanto são as palavras. tenho medo. tirem-me dos picos.