2010-06-20

desculpas

a bandeira, a meia haste, acariciava as agulhas quentes do pinheiro (não é um pinheiro) cinzento pelo ar frio da madrugada, a pedir calor. o meu pinheiro, disse ela para a bandeira, a meia haste, descendo a rua e apertando o casaco contra si, a pedir calor. com voz mais pura, sentou-se no chão português sem desenhos e começou a narrar os segundos fantasiosos da alegria que o frio da manhã lhe trazia. a bandeira, a meia haste, envergonhou-se no pinheiro e ela, com voz pura, narrou-lhe isso mesmo. a bandeira deixou de se sentir envergonhada; mas sentiu-se triste, era uma desculpa para a menina, uma desculpa para ela contar histórias. passou uma senhora. a menina, com voz pura, contou-lhe da bandeira: àquela hora os que passavam eram boa gente, gente capaz de se sentar no chão e falar. era uma menina loira, olhos azuis e pouco da vida (não era pouco da vida) e uma senhora que, depois de muito rebolar na cama, se levantou para se sentar num chão que lhe era alegria. eram duas mulheres, uma bandeira e uma árvore (não um pinheiro): eram uma desculpa para escrever.

7 comentários:

Maria Francisca disse...

Também me posso sentar no chão contigo, se quiseres.

Poppins disse...

Adoro os teus textos, Margarida.
Já tinha saudades! *

Maria Francisca disse...

fazemos isso, então.

Anónimo disse...

Tens um estilo pessoal muito maduro, denso e agradável em simultâneo. Continua.

Margarida disse...

muito obrigada, são destas (e outras, claro) opiniões que gosto de ouvir e me levam no caminho, vá, certo. gostaria era de saber de quem se trata!

Mel disse...

Adoreiiii(:

Matilde Cê disse...

Margarida, eu tinha deixado aqui um comentário... mas não está aqui. :'x Vou reescrever (mais ou menos).

Achas que as fadas, quando crescemos, deixam de olhar por nós?