2011-12-18

das mortes lentas

cantas algumas músicas enquanto tomas banho e eu ouço-te ao fundo - estou a fazer qualquer coisa que o nosso amor não conhece, porque o nosso amor não faz perguntas. é um bebé que se diz aprimorado por não refilar nem quando se lhe muda a fralda - irá ele mudar o mundo, digo, o seu centímetro quadrado sequer de passagem? sabe bem escorregar na cadeira, pôr os fones e nem sequer uma pontinha de sentimento de culpa por não me recostar ao som da tua voz abafada e humedecida (o quê, cantava então no banho?). ao jantar relatar-te-ei de que vi a minha colega de carteira (onde nós pintávamos flores na aula de estudo do meio) no supermercado: tem um ar esquisito, lá todo cheio de cores, onde é que já se viu com quarenta anos alguém a saltitar feliz no corredor das alfaces. 
enquanto a cadeira escorregadia e os fones que penetram como espargos nos meus ouvidos um formigueiro tão familiar na ponta dos dedos - palavras. mas eu vou à varanda sacudir tapetes que as limpezas alguém tem de as fazer. assim, morri. (a música acabou mas logo outra na lista de reprodução e eu sem pena e já sem me lembrar - o quê, a minha música favorita passava então?)