2010-05-06

ai aflito

ela olhava fundo nos olhos dele e num clarão via-se sentada num chão qualquer de madeira clara, de cortinados brancos a deixar entrar muita luz, muita luz, luz dum dia inocente, clarinho, de calor ameno, cabelos num tocar levezinho no ombro rápido, nada de tapar olhos nem de nós absurdos, só um ventinho e um amarelo raiado a entrarem pela janela e a reflectirem na madeira clara quase espelho, onde ela estava sentada, pernas muito tortas e costas muito dobradas e cabeça muito baixa e ela já sem ver luz alguma, um aberto qualquer muito escuro ali na zona das costelas, mais acima das costelas, não nas costelas propriamente, mas um aberto muito fundo, quase que lhe parecia os olhos dele, e ela via-se sem se lembrar dos olhos dele, tudo já muito escuro, madeira envelhecida e cortinados cinzento urbano, qualquer coisa impessoal, um dia já feito noite sabia lá ela por onde tinham ido as horas, sabia dum atalho cortando à esquerda na subida, mas já se esquecera então, tinha lá ido com olhos já nem sabia de quem, e tudo muito escuro, muito aberto e onde estou eu, de cabeça muito baixa à procura do coração, ela que nunca se lembrava dela, tinha cabeça de ar meio poluído era o que era. de repente um apagão e os olhos dele já bem no fundo de si.
- sobe, que depois cortamos à esquerda.

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