2010-12-03

chamo-me Margarida e sou um jardim

(não sei que direito tenho de escrever sobre mim dado que nunca o fiz por estar sempre comigo e assim não me achar de interesse geral.)
uma vez, num banco de jardim, disseram-me, em jeito de conversa poética, que Deus tinha posto as flores no mundo para o enfeitar e, portanto, para fazer as pessoas felizes. foi aí que, mais que flor, quis ser um jardim.
ainda sou uma menina. nunca ganhei prémios, nunca uma obra acabada, nunca um acto sem ponta da minha personalidade emotiva e impulsiva. mas, do alto da minha adolescência, disse “é por aqui que vou” – já sou uma mulher.
sou um depósito ajardinado de lições de vida, manhãs de praia, cicatrizes abertas e basicamente tudo o que me inspirar a contar histórias aos outros (não é isso o amor?), contando ainda com o meu egoísmo tímido cheio de sonhos e esperanças vãs, a minha descoordenação motora e trapalhice habitual e desorganização um tanto ou quanto planeada para que num instante um mundo conhecido, mas novo, à minha espera.
comecei pelo que sou actualmente porque tenho para mim que teoricamente, é pelo “hoje” que se começa. nascida em vésperas da revolução de Abril, vivi sempre na minha Damaia do coração e nunca o achei limitativo, por aumentar a sede de conhecer, a imaginação de viver e muito mais vantagens que se rimassem até discriminava. na minha vida e para mim, momentos dignos de palavras escritas são-nos todos, desde a minha Profissão de Fé à senhora que me perguntou porque chorava sentada no chão duma rua que já não me recordo qual, passando pela minha primeira composição e pelos beijos que me queimaram noites de estudo.
menina e flor em demasia para contar os meus feitos e recompensas, só me resta fazer com que me torne um pouco jardim e mulher para ser capaz de os contar, sem que ninguém os escreva por mim.

(só porque o stor de literatura fez questão de ler para a turma inteira e eu fiquei a morrer de alegria quando mo contaram, já que hoje foi dia de cama.)

6 comentários:

Raquel disse...

Belo Margarida, lindissímo! Muito bom mesmo. Completamente digno de ser lido em frente à turma inteira.

Susana disse...

isto dava uma conferência e tal, gostei muito, muito! (será excusado dizer que a minha parte favorita é quando te referes orgulhosamente à Damaia!)

Maria Francisca disse...

Pena que não tenhas sido tu a ler.

Um dia dizes-me esse texto, que eu sei que vem do coração e que não precisas de papel para te guiares.

Ana disse...

Posso ser uma borboleta no teu jardim? Ou só mais uma Margarida como tu?

Rita da Maçaroca disse...

Só tenho a dizer, que gostei muito de te conhecer neste texto :)

Maria disse...

preferia que não tivesses sentido. talvez fosse sinal que não sabes o que é..
:)