2012-02-09

o armónio

Teclado como se um piano de graves e cenas que não sei tocar, respiras porque finalmente eu e as tecnologias. Desconfias – nunca tive nada contra elas – cantas-me e respiras-me e eu cheia de rédeas acima das pernas. Devia estar doente, sabes que sei disso e no entanto o meu estômago vestindo sari e a gola turva-me a vista, os olhos não por favor que os olhos –
Teclado cheio de pausas e coisas que fugazmente apresso na manha ondulada duma colcheia escrita a verso puxado para baixo pelos brincos que são gordos e me magoam os lóbulos, a doce sensação dos pediatras que me observam o tímpano, tudo sons nestas teclas de portátil que uso como nunca, para escrever numa folha paragrafada, impessoal, certa e suja, porca, uma folha porca que infelizmente não cheira a batatas:
A mulher faz dieta à minha frente. É como arrotar em público – um ultraje de tofu e pingas de leite; estar a apodrecer por dentro das almas e coisas assim não é tarefa fácil: pior que quando o meu estômago faz nudismo no meio do intervalo e o meu telefone toca, acende-se, aquela porra daquela luz mais que irritante e instável (ora azul ora rosa ora o diabo que o valha a ele que de mim não gosta, sou toda anjinhos e flores desinfectadas de abelhas, naturais é claro, mas sem aquela coisa toda que me enoja no meio natural, as partes selvagens, parece eu quando me julgava boa pessoa, aiquelindoomeucabeloassimprónatura) e eu, pobre coitada vítima duma guerra que comprei por capricho, eu toda tô-lá sim sim sou eu, mas que coisa, eu quero é palitos de mozzarella feitos por mim, cheios de queijo que me cai lábios abaixo, lasanha e lasanha e barcos.
Estou adormecida no barquinho em que me passeias, amo-te e tapa-me agora que tenho frio e quero ouvir o som dos teus pés nas tábuas de madeira que me passam nas costas, incrível a música como se barco e eu um piano onde tocas cheio de rédeas colcheias instáveis que descobres sem dar por ela, essa cena da alma que não percebes nada e o quentinho que está com este chocolate derretido todo - 

2 comentários:

Poppins disse...

Li o teu texto ao som de Rui Veloso - Anel de Rubi.

E digo-te, foi perfeito.

Anónimo disse...

Finalmente voltaste a postar. É sempre um gosto ler-te.
No meu recém-iniciado blog só me lembrei, imediatamente, do teu para linkar. Nos outros vou pensanso com calma. O teu foi logo!