2010-09-28

túnicas com girafas

estás encostada ao prédio ao pé da cabine do telefone favorita de emigrantes que não têm dinheiro para mandar à família lá longe, contente por não seres a única infeliz neste mundo.não te interessa sequer o que a tua consciência pensa de ti. ouves africano, brasileiro do interior, mandarim, indiano. ninguém te vê. talvez a tua própria consciência o saiba, és invisível, ninguém te vê, não há dinheiro para o rebento mais novo, o mais velho que quer seguir com os estudos, a irmã que está grávida e fogo que é uma menina, tudo na mesma cabine, a rede sobrecarregada de infelicidade que não tua, bom, juro que isso é bom, vais aprender estas línguas todas um dia quando fores para a faculdade, vais saber a língua toda da vida quando no estrangeiro o teu traquejo não vale dinheiro num envelope, estás suja, usada e invisível, mais invisível que suja porque não um cheiro, na cabine azul e branca uma palavra que te caiu em cima, trouxe-te tudo de volta,uma e outra vez (se pudesse rimava agora, um som igual numa prosa corrida, uma palavra que me caiu em cima, uma rima aqui, por favor), do outro lado da linha sabes todos os porquês. desfazes-te porque já nem prédio, a tua vida era um prédio de desgraças com cabine ao lado, quem te disse que uma vida são escadas de desgraças? eras uma sequência limpa de paus, preto, trevos da sorte, eras um prédio com cabine ao lado, desfizeste-te, tanta gente na rua e o que pensa a tua consciência de ti?

4 comentários:

Anónimo disse...

a maneira comu vez a vida mostra o que es ...

quando for grande quero ser como tu

Anónimo disse...

Tenho pena que esta cabine o seja e permaneça como é :(

apesar da mensagem que passas ser menos positiva adorei o texto e a tua expressividade é sem dúvida muito boa e muito perceptível!
continua a ser assim, tu!

quem tu sabes =)

Poppins disse...

Realmente, não há ninguém que escreva como tu. É tão diferente de tudo. Faz-te especial. :)

Sabes, as vezes esqueço-me das cabines que temos em frente aos nossos prédios. Não quero saber delas. E também não quero saber o que a minha consciência pensa de mim. Isso penso depois.

Francisco disse...

Mas que texto tao profundo margarida.
-Sabes os teus comentarios mesmo nao sendo grandes demonstram uma simplicidade e um carinho muito grande..
Muito obrigado =)