uma a uma, dexou cair as cartas que lhe escrevera. todas elas: no chão, na arca dos gelados do café, na paragem do 711, na ponte, na gaiola dos canários do avô, numa das gavetas do melhor amigo. todas elas, inteiras e intactas num anonimato previsível. aí, principiou a arrancar de si todas as suas partes constituintes cujo 'seu' já não siginificava nada. encontrou-se assim num chão de ladrilho inspirado pela romanização, e aí uma confusão de risos, palavras, pernas, (não os cabelos, sempre independentes de mais os cabelos), camisas, pestanas, papel magoado, verniz das unhas (tão anónimo esse), impotência, lençóis, sangue, teclas de computador - um g gasto -, carne e qualquer coisa como se alma, tudo num chão tão seu país, o chão um país, aquele corpo um país em si também. e por aí ficou, nação ou não, uma confusão de tudo, de todas as elas sejam quais forem, dias e dias sem sequer um olá ao sol (esta gente sempre tão mal educada para com o sol), uma confusão de tudo e tudo sempre muito mais que vivo e fresco, sangue vivo e carne fresca que continua a arder nas extremidades. chegou uma semana qualquer que não viu passar por si e recompôs-se, fez-se o corpo seu de todo, uma e outra vez. aprendeu a ser chão, e seguiu.
5 comentários:
Almas sem chão facilmente escorregam e caiem.
Gostei muito! :)
Tu é que sabes essas coisas tuas. As palavras misturadas como se novelos da mesma lã. Lã que se vai revelando cada vez mais bonita, em cada par de linhas tuas. Não queiras um Inverno frio, caído como cartas e almas impotentes. Porque tu sabes melhor - e lei-o aqui.
ADORO!
Prometo que a partir de hoje vou dizer bom dia ao Sol todos os dias!
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