eu devia estar a estudar. mas estudar dói. porquê tanta gente a descobrir tanta coisa tantos dias seguidos, e eu parada na janela?, a velhota sobe com o carrinho das compras, a menina que se quer mulher hoje desce com cara séria de rainha, uma folha cai (já outono?!) e por ali fica, parada e preguiçosa. tenho a certeza que está a olhar para mim. tenho a certeza que nela também uma dor de apanhar injecções se, por acaso, tivesse de estudar. ela nunca descobrirá nada, nem eu descobri, matérias quaisquer em que sejam necessários o isolamento total da população comum e um estudo de tubos de ensaio quentes e frios. somos meras observadoras em organizações mundias, não lançamos as redes de pesca mas embarcamos de madrugada. tenho a certeza que nela um impulso qualquer e um big bang prontinho a sair nas nervuras já amarelas. sei de antemão que irei amar esta folha. provavelmente inventarei mil e quinhentas histórias para que não morra o amor que lhe tenho apenas porque, parada e preguiçosa, caiu. prometerei que nunca, nunca na vida a tratarei como inferior só por lhe estar a fazer um favor.
amei uma folha e morri por dentro. foi o fado que pus na aparelhagem, nada contra. um classicismo que estimula o cérebro já decomposto e uma secura nos lábios e aparcebi-me sem vida (onde é que eu a pus? tenho a certeza que junto à flor da casa-de-banho, na gaveta mais espampanante que lá tenho, a vida?). então aí, já tenho duas opções. ou morro por dentro e nada vale a pena - o mérito académico, os amores que tive com amigos que perdi, a minha avó de feitio igual, todas as sextas à tarde, apenas pontuais domingos de manhã, as lágrimas de alguém que não meu no bolso do casaco castanho que por acaso tenho de arrumar no cabide quando estudar deixar de doer - e nada vai merecer o meu trabalho, nem eu o dos outros. ou então sai um big bang agridoce do meu coração. já vos tinha dito que não gosto de ver folhas secas na calçada portuguesa?
4 comentários:
fantástico.
eu continuo a dizer que nunca vi ninguem escrever como tu!
Confesso que não me recordo de vir aqui, de alguma ter vindo aqui. Hoje vim e adorei!
Beijinho *
adoro vir aqui, já tinha saudades!
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